O meu filho ainda faz “chichi” na cama! E agora?

Durante o desenvolvimento da criança é esperado que a continência urinária, ou seja, o controlo da bexiga, seja adquirido por etapas, primeiro a de dia e posteriormente a de noite. A idade é um pouco arbitrária, depende de criança para criança, mas o padrão será que a continência urinária diurna seja atingida até cerca dos 4 anos e a noturna até aos 5 anos.

Fazer chichi na cama, pode ser considerado “normal” até cerca dos 5 anos. Pode tornar-se um problema quando ocorre duas ou mais vezes por semana, por um período de 3 ou mais meses consecutivos e quando afeta a qualidade de vida da criança e dos papás e chamamos enurese!

Ao longo deste artigo vamos falar sobre o que é a enurese, porque acontece, quando é que os papás devem procurar ajuda e que estratégias podem adotar para prevenir.

 

É frequente as crianças fazerem chichi na cama?

Sim, é algo muito comum. Afeta cerca de 20% das crianças até aos 5 anos e é mais frequente nos rapazes.

Porque é que isto acontece?

Bem, em primeiro lugar queremos que os papás percebam que as crianças não fazem chichi na cama por birra ou porque querem. Acontece involuntariamente e na maioria das vezes devido a um atraso na maturação dos mecanismos da capacidade de concentrar e reter a urina durante a noite. Pode acontecer porque a criança tem uma bexiga mais pequenina, porque produz mais urina durante a noite, por alterações no mecanismo de despertar, porque tem um sono mais profundo ou até por fatores genéticos. Alguns autores referem que quando um dos familiares próximos da criança teve problemas de enurese, aumenta a probabilidade da criança também vir a ter. 

 

Quais as consequências?

É muito frequente que as crianças com enurese noturna fiquem mais ansiosas, sintam vergonha e tenham uma baixa de auto-estima. 

Por outro lado, os papás também ficam mais frustrados, ansiosos, mais agressivos, com perturbações do sono, etc.

Que estratégias os papás podem adotar para ajudar a criança?

  1. Não repreender nem castigar a criança;
  2. Tranquilizar a criança, a forma como os papás lidam com a situação é crucial para a resolução do problema;
  3. Falar do assunto naturalmente (dependendo da idade da criança explicar como funciona o sistema urinário);
  4. Reduzir o consumo de líquidos ao fim do dia;
  5. Evitar bebidas com cafeína a partir do meio da tarde (ice-tea, coca-cola, etc.) pois aumentam a produção de urina;
  6. Fazer o treino da bexiga, levar a criança a fazer chichi várias vezes ao longo do dia, de forma a esvaziar a bexiga;
  7. Fazer chichi imediatamente antes de ir deitar;
  8. Acordar a criança, 1,5h a 2h após se deitar para ir ao wc;
  9. Reduzir o incómodo da mudança de roupa (ter um pijama preparado perto da cama, utilizar resguardos, etc.)
  10. Pedir à criança para ajudar a mudar a roupa, para que esta perceba o trabalho que envolve e se sinta responsável;
  11. Felicitar a criança sempre que não fizer chichi na cama;
  12. Adotar um calendário de “noites secas”, a criança sente-se mais confiante e por vezes a motivação pelo ganho da recompensa pode auxiliar a criança a não fazer chichi à noite. A recompensa pode ser um autocolante, um smile no quadro de recompensas, etc.

E se nada destas estratégias resultar? Quando é que os papás devem procurar ajuda?

Se após implementar estas estratégias, a criança continuar a fazer chichi na cama os papás deverão falar com o pediatra que acompanha a criança, para ele avaliar e sugerir outras estratégias como terapêutica medicamentosa ou alarmes (dispositivo que é colocado na roupa interior da criança e que emite som quando deteta humidade). 

Também deverá contactar o pediatra que acompanha a criança sempre que associado a fazer chichi na cama a criança tiver a sensação de urgência em urinar, ardor quando urina, urina com uma cor mais turva ou a criança não consiga evacuar (fazer cocó).

Esperamos ter ajudado os papás. Nunca se esqueçam que a criança não tem culpa de fazer chichi na cama!

 

Referências utilizadas para a elaboração do artigo:

Author:
Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria.