Impacto do uso das máscaras faciais nas crianças no contexto da pandemia COVID-19?

Para nos proteger e para proteger os outros, a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda o uso de máscaras por todas e quaisquer pessoas com mais de 10 anos que permaneçam ou acedam a espaços interiores fechados com várias pessoas, utilizem transportes públicos e circulem ou permaneça, nos espaços e vias públicas em que o distanciamento físico recomendado não possa ser garantido.

Mas e o desenvolvimento das crianças? Será que fica afetado pelo uso generalizado de máscaras? O que é que os papás podem fazer para diminuir o impacto? Esta é uma preocupação crescente dos papás com que lidamos diariamente. Pretendemos com este artigo falar um pouco sobre este tema.

Todos sabemos que o uso de máscara é importante para o controlo da pandemia, mas à medida que cada vez mais pessoas usam, torna-se mais difícil ver o rosto das pessoas e ler as suas expressões. Se para os adultos, isto pode não representar grandes desafios, o mesmo não acontece com as crianças. 

É importante percebermos que a face é um dos estímulos mais ricos para o desenvolvimento da comunicação da criança. 

É também através das expressões faciais dos papás e do seu tom de voz que as crianças regulam a sua resposta quer no que respeita às outras pessoas, quer nas novas situações do dia a dia. Para que os bebés e crianças se sintam seguras, existe uma forte dependência das expressões faciais. É através das expressões dos seus pais que obtêm pistas emocionais para regular as suas respostas ou para identificar situações potencialmente ameaçadoras.

Pensem por exemplo, numa criança que está a andar no passeio e progressivamente vai-se encaminhado para a estrada, provavelmente se a mãe fizer uma expressão de aflição ou de medo a criança irá recuar. Mas e se ela não vir expressão nenhuma? Alguns estudos indicam que muitas vezes a criança só tem a real perceção do perigo pelas expressões dos seus papás/cuidadores. O facto de isto acontecer poderá levar a que as crianças se sintam mais ansiosas e inseguras com o seu ambiente envolvente.

Por outro lado, as máscaras podem também afetar o processo de imitação, essencial para o desenvolvimento da criança, por exemplo relativamente à comunicação. A grande maioria das vezes a criança começa a emitir os primeiros sons por imitação, ou seja, porque estão a tentar imitar os papás. 

Podemos então concluir que o uso de máscara empobrece em muito, toda a informação da face necessária para um desenvolvimento harmonioso das crianças.

Mas e o que é que podemos fazer para minimizar este impacto?

  • Apresentar a máscara à criança num lugar familiar, por exemplo em casa, antes da criança ter contacto com o mundo exterior;
  • Deixar que a criança mexa na máscara e a coloque se quiser experimentar;
  • Explicar à criança que os papás vão utilizar a máscara na rua e que as outras pessoas também usarão;
  • Brinque com a criança ao “esconde-esconde” ou “peek-a-boo”, ou seja ponha e tire a máscara revelando sorrisos ou diferentes expressões;
  • Brinque com a criança ao “adivinha a expressão”, ou seja peça à criança que tente adivinhar a sua expressão mesmo com a máscara colocada (vai permitir à criança identificar expressões mais facilmente só através do olhar);
  • Fale com a criança através da máscara, uma vez que a máscara abafa a voz é importante encontrar um “volume” de fala que a criança consiga ouvir. 

Se usar máscara é tão importante para evitar a propagação do vírus, é tão ou mais importante ajudar as crianças a interpretar os rostos por trás das máscaras. 

Esperamos ter respondido a algumas das vossas questões e que através destas dicas consigam contribuir para um melhor desenvolvimento social e emocional das vossas crianças.

 

Referencias utilizadas para a realização deste artigo:

Author:
Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria.