Espreguiçadeira, sim ou não?
Quando falamos em opções de sítios ou equipamentos onde o bebé pode ou deve estar, na verdade não estamos só a falar em opções de sítios ou equipamentos onde o bebé pode ou deve estar. Estamos a falar em como gerir uma rotina, em como gerir o cansaço, em como maximizar a experiência da parentalidade de forma positiva, em como potencializar ao máximo o desenvolvimento do bebé, em como criar um espaço seguro que permita ao bebé explorar e descobrir o seu meio, em como fazer o melhor que cada família consegue fazer em relação a todos estes (e tantos outros) assuntos! Portanto, o tema da “espreguiçadeira”, como tantos outros, não é um tema de “sim, é para avançar” nem “nunca, jamais, em tempo algum”.
As espreguiçadeiras – com ou sem embalo ou “rocking” adicionado – são equipamentos passivos de posicionamento do bebé que são utilizados para colocar o mesmo, vigiado, quando este não está a dormir. São utilizados há décadas, sendo que, como em tudo, fazem-se acompanhar de um progresso tecnológico que nem sempre é ideal – existem inúmeros auto-intitulados “sistemas de entretenimento” que fazem tudo desde ter acessórios para estímulo visual e motor, a ter funções de embalo regulável, sincronizado com música e vibração, induzindo erros como “o equipamento até está a ajudar o desenvolvimento do bebé”. Veja-se que o conceito que tende a propagar-se de geração em geração é que a espreguiçadeira é uma opção “baby-friendly”, porque o bebé está a ser embalado (pelo seu próprio [e limitado] movimento, ou pelo sistema de embalo mecânico do equipamento em si). Mas sabemos hoje que estes equipamentos nunca podem substituir os estímulos que o bebé precisa de ter: o colo e o contacto, tanto com o chão, como com as suas pessoas significativas. A ideia de que o embalo do equipamento substitui o colo implica uma visão puramente mecânica – e falsa – de que o estímulo cinético é tudo o que o bebé precisa. O bebé precisa do toque, do aconchego, do cheiro, do movimento, do embalo e do som – essencialmente, do amor – do colo. Torna-se igualmente relevante perceber que o conceito de que “se o bebé está preso, então está seguro” é altamente limitativo, dado que o desenvolvimento adequado do bebé segue regras naturais que dependem da exploração do mesmo em relação a si próprio e tudo o que o rodeia na dimensão sensório-motora e cognitivo-emocional. Também se promove o conceito de que o bebé está “entretido”, igualmente erróneo, dado que o melhor entretenimento para o bebé é a interação humana, em especial com a sua família! Então porque é que se usam estes equipamentos ou em que circunstâncias podem ser utilizados? A resposta é altamente variável, conforme o contexto de cada bebé. Não podemos comparar a utilização pontual a uma utilização sistemática e persistente, assim como não podemos comparar as circunstâncias sociais que envolvem cada bebé e unidade familiar. Analisemos alguma informação que poderá ajudar a esclarecer estas questões.
Como fisioterapeuta em pediatria, eu aconselho todas as famílias a explorar o potencial completo de movimento do bebé em
todas as etapas do seu desenvolvimento, sempre em segurança. Faço isso em consciência, sabendo que não há ninguém (uma pessoa singular) que consiga estar 100% do tempo a dar atenção exclusiva “hands-on” ao seu bebé acordado – uma pessoatem de ir à casa de banho, cozinhar, *inserir atividade fundamental*. A expressão, “it takes a village” (é preciso uma aldeia – para criar uma criança) ganha toda uma dimensão quando falamos em vigiar o bebé e participar ativamente no seu desenvolvimento. Porque, sim, os melhores sítios para o bebé estar são o colo (em todas as formas – com ou sem ferramentas de babywearing) e o chão (com as devidas medidas de higiene e segurança).

Mas nem sempre esta gestão é fácil e, sabe-se que, por vezes, o melhor é o que é possível e a espreguiçadeira, utilizada de forma sensata, segura e sem exagero no tempo de utilização, pode ser uma opção para várias famílias que precisem que o bebé esteja contido, vigiado e seguro de forma “hands-off” durante uma atividade breve do adulto. O risco é que uns minutos se transformem em horas, várias horas, várias vezes ao dia, todos os dias, sempre. E isso não acontece por mal – chega de julgar famílias a toda a hora, obrigado! –, isso acontece por cansaço, por dificuldade na gestão do dia a dia, por
sobrecarga de um ou ambos os cuidadores do bebé, por não saber como fazer de outra forma, por não querer saber (sim, também existe e é permitido algum julgamento aqui, desde que acompanhado de uma vontade inabalável de querer capacitar e/ou ajudar). Então o que é que pode ajudar a que isto não aconteça? Ler artigos como este, para a consciencialização desta temática e, de uma forma mais prática, usar um alarme, para limitar o tempo de utilização da espreguiçadeira – o tempo passa muito mais depressa do que às vezes damos por ele – e aproveitar o lembrete para recolocar o bebé no colo ou no chão. Também poderá ser útil falar com várias pessoas – incluindo pessoas de gerações ou contextos sociais diferentes do nosso, abrindo espaço para o diálogo, mas mantendo a assertividade face às escolhas individuais informadas de cada um – para contribuir para a desmistificação de conceitos que rodeiam esta temática.
E assim, levando tudo isto em conta, se optarem por ter uma espreguiçadeira em casa, o que é que é fundamental saber?
- Saber que o bebé TEM DE ser vigiado, mesmo estando na espreguiçadeira. A espreguiçadeira só permite que se esteja “hands-off”, não “eyes-off”. O bebé tem de estar sempre vigiado porque, sim, existem relatos de acidentes como quedas, traumatismos (crânio-encefálicos ou de outros tipos) e até morte causados no contexto da utilização destes equipamentos. Existem relatos, também, de efeitos nocivos da sua utilização que não qualificam como “acidentes”, como a sua utilização excessiva e consequente privação dos estímulos adequados para o desenvolvimento do bebé – o que pode levar a atrasos de desenvolvimento cognitivo-sensório-motor e reforço de alterações da morfologia corporal (exemplo: assimetrias cranianas) ou assimetrias posturais (exemplo: torcicolo), entre outros.
- Saber que o bebé NÃO deve dormir na espreguiçadeira. As regras para o sono seguro são conhecidas e não há indicação para o bebé dormir na espreguiçadeira. Se o bebé adormecer, por mais que custe, tem de se recolocar o bebé num local seguro para ele dormir.
- Saber que o bebé TEM DE estar com o cinto de segurança próprio da espreguiçadeira colocado sempre que está no mesmo. O bebé pode conseguir virar-se e não conseguir regressar à posição inicial segura, ou pode escorregar no equipamento, podendo até mesmo cair.
- Saber que o bebé NÃO deve ter objetos a envolvê-lo ou rodeá-lo – mantas, lençóis, almofadas, brinquedos – dado o risco de sufocar.
- Saber que a espreguiçadeira TEM DE estar no chão. Não é negociável: o risco de queda é demasiado grande em outras superfícies. As espreguiçadeiras não podem ser colocadas sobre o sofá, a bancada da cozinha, a mesa da sala, nem mesmo da cama. O potencial do equipamento tombar e tornar-se um peso sobre a criança que pode sufocar é real e não é desprezável.
- Saber que cada equipamento tem um modo de utilização específico que TEM DE ser respeitado. Ler as regras de utilização do vosso equipamento é fundamental!
Em tom conclusivo, pais, reforcem as vossas escolhas informadas, seguras e promotoras do desenvolvimento do vosso bebé! Em simultâneo, sejam bondosos para convosco mesmos, respeitando os momentos em que precisam de alternativas seguras de posicionamento dos vossos bebés!
Referências de Imagens:
Author: Filipa Moita de Deus
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