Como sabemos, o sono é um processo fisiológico essencial ao bom funcionamento do organismo.
É durante o sono que o nosso corpo se restabelece das nossas atividades diárias.
A privação do sono ou um sono inadequado debilitam o organismo o que poderá levar a consequências graves para a saúde.
O útero, pelas suas características de “filtro” de estímulos visuais e auditivos, promove um desenvolvimento cerebral equilibrado ao limitar a atividade sensorial. No interior do útero materno, o feto beneficia das condições ótimas para o seu desenvolvimento adequado. A temperatura é a ideal e constante (calor neutro), a pressão sobre a pele é suave, os sons (propagados através do líquido amniótico) chegam numa frequência baixa, a luz é ténue ou inexistente e os cheiros e sabores são agradáveis. Apesar de existirem inúmeros estímulos no meio uterino, a maioria é de natureza tranquilizadora, sendo o local ideal do ponto de vista sensorial e um local extremamente reconfortante.
Num estudo, em 2016, foi observado que dentro do útero o feto se encontra em sono profundo cerca de 80% do tempo.
Após a admissão na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN), o sono do bebé é interrompido cerca de 132 vezes em 24h, ou seja, o bebé tem períodos de descanso de 4 a 9 minutos consecutivos.
Os bebés prematuros demoram mais tempo a adormecer e apresentam ciclos de sono mais curtos, como são incapazes de se protegerem dos estímulos acabam por ter dificuldade na passagem do sono leve ao sono profundo.
A organização dos estados de sono -vigília (tempo que estão acordados) é altamente dependente do ambiente: da alternância de luz e escuro, dos níveis de ruído, da relação mãe – filho, da dor, entre outros.
Os estados de sono – vigília são a única maneira pela qual o bebé prematuro comunica aos outros suas necessidades e seu nível de bem-estar.
Na UCIN, devido ao estado de saúde crítico, aos procedimentos realizados e todo o ambiente, o sono pode ser prejudicado e a sua interrupção pode influenciar negativamente a recuperação do recém-nascido prematuro.
Por outro lado, os próprios processos de doença, responsáveis pela dor e stress, e o uso de vários medicamentos são reconhecidos como capazes de interferir no padrão de sono.
Quais as consequências da privação do sono no bebé prematuro?
A privação do sono no bebé prematuro leva à desregulação de diferentes sistemas no organismo do bebé, interfere no seu sistema imunológico o que pode desencadear processos infecciosos.
Por outro lado, leva a alterações da tensão arterial, o coração bate mais rápido, e aumentam o consumo de oxigénio.
A perturbação do sono no início da vida, além de desencadear desconforto ao recém-nascido, pode acarretar futuras alterações: cognitiva, de atenção, aumento do risco para doenças asmáticas, obesidade, ansiedade, depressão e comprometimento comportamental e social.
Como se manifesta no bebé?
Dependendo da fase do sono em que se encontram e o bebé é acordado pode resultar em diferentes manifestações. No entanto, as mais comuns são a irritabilidade, uma maior sensibilidade à dor, ficam visivelmente mais cansados e com as suas defesas mais em baixo.
Como é que os papás podem minimizar os efeitos negativos da UCIN?
Existem muitos contributos que os papás podem dar para minimizar estes efeitos. São eles:
- Utilizar sempre um tom de voz baixo e suave;
- Evitar conversas perto da incubadora;
- Não falar ao telemóvel dentro da unidade;
- Não colocar objetos em cima das incubadoras;
- Abrir e fechar devagar as portas da incubadora;
- Manter a superfície da incubadora coberta (a iluminação continua interfere na percepção do padrão de dia e de noite do bebé que é fundamental para a promoção do sono do bebe);
- Não utilizar flash quando tirar fotografias;
- Pratique o método Canguru, quando possível;
- Respeitar os períodos de sono do bebé, de forma a interagir com o bebé nos momentos em que ele está acordado.
Se os papás implementarem estas estratégias contribuem para a preservação do sono e repouso do bebé prematuro.
Esperamos ter ajudado.
Referências utilizadas para a realização deste artigo:
- Faure, M., & Richardson, A. (2004). Os sentidos do bebé: compreender o mundo sensorial do bebé – a chave para uma criança feliz. Lisboa: Livros Horizonte.
- Tamez, R., & Silva, M. (2006). Enfermagem na UTI Neonatal: assistência ao recém-nascido de alto risco. (3ª ed). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
- https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12024534/ (acedido a 01/11/2020)
- https://www.scielo.br/pdf/ape/v30n5/0103-2100-ape-30-05-0489.pdf (acedido a 01/11/2020)
- https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19451078/ (acedido a 01/11/2020)
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3439810/ (acedido a 01/11/2020)
- https://nwhjournal.org/article/S1751-4851(19)30230-2/fulltext (acedido a 01/11/2020)

Author: Ana Gaspar
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